Jovem Guarda
A Jovem Guarda, um movimento cultural brasileiro muito forte, surgiu em meados da década de 1960, mudando os conceitos musicais e também de comportamento. Foi o acontecimento que mudou a cara da música popular brasileira. O movimento que tinha como alicerce um programa de televisão denominado “Jovem Guarda”, apresentado por Roberto Carlos, conjuntamente com Erasmo Carlos e Wanderléa. Esse movimento mudou completamente a linguagem musical, e foi um dos maiores fenômenos acontecidos no século XX no Brasil.
Com forte influência do rock and roll a Jovem Guarda explodiu, falando de temáticas amorosas e açucaradas, com letras ingênuas e algumas versões de hits do rock britânico e norte-americanos da época. Sem dúvida, foi o primeiro movimento musical impactante no país, colocando a música brasileira em sintonia com o fenômeno estouro do rock em todo o mundo, especialmente dos quatro cabeludos de Liverpool.
Se os Beatles eram a sensação do mundo, Roberto Carlos comandava a juventude brasileira naquele momento, com a frenética explosão do iê-iê-iê, vista com restrições pela crítica em relação ao público mais afeito à bossa nova, e depois às canções de protesto dos festivais.
O programa era sucesso total nas tardes de domingo. Nomes como Eduardo Araújo, Silvinha, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Martinha, Vanusa, Leno & Lilian, Trio Esperança, Deny & Dino, Reginaldo Rossi, Sérgio Reis, Antônio Marcos, Kátia Cilene, Sérgio Murilo, Waldirene, Ed Wilson, Ronnie Cord, Jorge Ben (que ainda não era Jorge Benjor), Tim Maia, Gerge Freedman, Golden Boys, Renato & Seus Blue Caps, Lafayette e seu Conjunto, Os Incríveis, Os Vips, The Jordans e The Fevers, dentre outros nomes, desfilavam seus sucessos.
Por incrível que pareça, nesta lista não aparece Ronnie Von, pois ele nunca participou do programa, mas que também fazia parte da constelação de astros daquele movimento.
O nome do programa foi inspirado por seus idealizadores, baseado na célebre frase do revolucionário russo Vladimir Lenin, que dizia: “O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada”.
A Jovem Guarda chegou ao seu auge em popularidade atingindo a marca de 3 milhões de espectadores só em São Paulo, onde o programa era transmitido ao vivo. Mais que um fenômeno televisivo, a Jovem Guarda impulsionou várias campanhas. Discos, roupas e diversos acessórios eram vendidos aos milhares.
Tudo que se vinculava à Jovem Guarda se transformava rapidamente em sucesso. O movimento era tão forte ao ponto de ter mudado o comportamento dos jovens daquele período. Calças de boca-de-sino colantes, de duas cores, cintos e botinhas coloridas e minissaia com botas de cano alto ditavam a moda, assim como gírias com expressões como barra limpa, broto, pão, papo firme, maninha, bicho e a clássica “é uma brasa, mora?”, constantemente dita por Roberto Carlos no programa. Dentre outras, outras tantas eram faladas virando referência para muitos adolescentes da época, pois o que era dito no programa de domingo se repetia nas ruas durante a semana inteira.
Com o fim do programa, no final da década de 1960, o movimento perdeu a força. Alguns artistas mantiveram seu vínculo com o rock, casos de Erasmo Carlos, Renato & Seus Blue Caps, The Golden Boys e Os Incríveis. Outros tomaram novos caminhos como Sérgio Reis e Nalva Aguiar, que partiram para a música sertaneja, e Eduardo Araújo, para o Rock-Country, enquanto que outros grandes nomes como Wanderléa, Wanderley Cardoso e Jerry Adriani enveredaram suas carreiras para a música romântica.
Em 1967 Roberto Carlos lançou seu último trabalho da Jovem Guarda, o LP "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", que ainda contou com arranjos de Lafayete ao som de um órgão Hammond, que o próprio Lafayete tinha experimentado e gostado, quando foi convidado por Erasmo Carlos, em 1964, para tocar piano em uma de suas gravações.
O instinto musical criativo de Roberto e Erasmo é tão intenso que a maioria dos artistas brasileiros, de todos os gêneros, já gravou pelo menos uma de suas obras. Por outro lado, a Jovem Guarda além da introdução da guitarra e do órgão eletrônico em gravações da maioria dos artistas da época, também deixou forte influência para as gerações futuras.
Erasmo Carlos e, principalmente, Roberto Carlos, deixaram de participam do movimento Jovem Guarda, mas alguns artistas como Wanderléa, Renato & Seus Blue Caps, Wanderley Cardoso e Golden Boys, dentre outros, continuam suas carreiras calcados no sucesso alcançado no tempo da Jovem Guarda.