A música romântica no Brasil
A música romântica no Brasil tem como maior referência o cantor Roberto Carlos. Sai ano entra ano, e ele continua absoluto. É o maior ídolo da história da MPB e o representante mais ilustre da música romântica no Brasil.
Os compositores clássicos na busca de expressão mais intensa para suas emoções, tinham como fonte de inspiração um quadro real. Até mesmo a leitura de um livro. Os temas iam se desenhando: a noite, o luar e o mar; o céu e as estrelas; as melancolias do amor; lendas, delírios e mistérios; a magia e o sobrenatural. Mas os fatores que tornam as melodias apaixonadas são os momentos de inspiração, na construção de letras que buscam tocar o coração, já que o amor e a canção tendem a caminhar juntos. Na canção romântica as harmonias tornam-se mais ricas e com maior emprego de dissonâncias.
No Brasil, quando começou a ser utilizado o sistema de gravação de discos, desde a década de 1900, podemos ver que, provavelmente quase 100% das canções gravadas possuem uma temática amorosa. Mesmo os compositores e intérpretes alheios ao romantismo, em algum momento registraram ao menos uma canção romântica ao longo de suas carreiras. Em qualquer tempo, a maior parte dos sucessos musicais tem como tema a questão amorosa. Até o primeiro disco gravado no Brasil pelo cantor baiano Xisto Bahia trazia versos de romantismo com a canção “isto é bom”.
Poemas de conhecidos poetas como Castro Alves, também eram transformados em modinhas retratando o amor. Nesse modelo de música romântica, cujo gênero básico foi a modinha, a figura da mulher era enaltecida como ser elevado e belo. Dessa maneira outras formas de cantar o amor foram se sucedendo, com letras onde a mulher aparecia apanhando, mas gostava, como mostra o “amor de malandro”, gravado por Francisco Alves em 1929. A partir da década de 1930 houve a impulsão do sucesso do samba e da marcha carnavalesca, e mesmo assim a música romântica manteve-se soberana.
No final desta década o romantismo continuava a caminhar a passos largos. E uma canção espelha bem esse sentimento de abordagem da figura da mulher. O samba-canção “a deusa da minha rua”, de Newton Teixeira e Jorge Faraj, gravada pelo cantor Silvio Caldas.
Com o fortalecimento das marchinhas de carnaval criou-se uma segmentação de lançamentos de músicas no Brasil. As músicas carnavalescas passariam a ser lançadas no final do ano, visando o carnaval do ano seguinte, e uma segunda leva era lançada após o carnaval, com músicas voltadas para as festas juninas, principalmente as de teor romântico.
Ainda contando com a força das marchinhas carnavalescas chegaram os anos 50. No entanto, a música romântica continuava dando as cartas, colocando-se definitivamente à frente na produção musical. Nessa década, o Brasil ainda viu o fortalecimento de dois gêneros principais de canção romântica, o bolero e o samba-canção. Nomes como os de Nelson Gonçalves, Maysa, Dolores Duran, Carlos Alberto, Silvinho, entre outros, ganharam destaque, cantando o amor em desgraça e sem esperanças, numa perspectiva que se manteria até que a Bossa Nova e, mais adiante, a Jovem Guarda.
As versões também ganharam força nessa época. Cely Campello e Carlos Gonzaga estouraram com “Estúpido Cupido” e “Diana”, respectivamente, com letras cantadas em português, escritas por Fred Jorge, o grande versionista da época.
A decadência da música de carnaval nos anos 60 fez com que outros gêneros musicais de origem cubana e mexicana se espalhassem rapidamente pela América latina e se aportassem no Brasil, um campo extremamente forte para o mercado.
Na Bossa Nova, o amor passou a ser cantado a partir das letras de cunho existencialista do poeta Vinícius de Moraes, que veio colocar o amor numa perspectiva de busca da realização, ultrapassando o fosso da fossa. Já com a Jovem Guarda o amor conquistou o arejamento definitivo.
Enquanto lá fora a chamada música jovem seguia a tendência que se espalhava pelo mundo, em especial ao rock inglês, com o estrondoso sucesso dos Beatles, no Brasil Roberto Carlos era elevado a representante maior dessa nova abordagem, cantando o amor de forma mais leve, mais bem humorada e de maneira mais despretensiosa em canções como “quero que vá tudo pro inferno”, “namoradinha de um amigo meu” e “eu te darei o céu”, entre outras. Assim a Jovem Guarda passava a influenciar o comportamento dos jovens, na maneira de vestir e de falar, com pronúncias de gírias como “eu sou uma brasa, mora!”; “papo-firme” e “bicho”, costumeiramente ditas por Roberto Carlos e sua turma.
Com o final da Jovem Guarda Roberto Carlos começou a trilhar seu caminho com tendências para o blue, gospel e soul, e mais, principalmente, para o romantismo. Resgatou a amizade com Erasmo Carlos com "eu sou terrível" e amadureceu em sua maneira de compor. Ainda nessa década Roberto Carlos obteve uma conquista importante, se tornando o primeiro artista estrangeiro a vencer o Festival de San Remo com a música “canzone per te”, de Sergio Endrigo e Bardot. Com a amizade refeita, Roberto & Erasmo voltaram a compor juntos e a editar verdadeiros clássicos da música romântica como: “sentado à beira do caminho”, "eu te amo, te amo, te amo", "as canções que você fez pra mim", "todos estão surdos", “detalhes”, “as curvas da estrada de Santos” e “sua estupidez”, dentre tantas outras.
Passada a época dos Festivais e da Tropicália, os anos 70 trouxeram uma nova vertente para a música romântica, com o surgimento do cantor e compositor Raul Seixas, que uniu oriundos da jovem guarda com outros de épocas anteriores, dando um quê de romantismo em sua canção "Gita", de sua autoria juntamente com Paulo Coelho. Ainda nesse período veríamos o surgimento das músicas cafonas, a chamada música brega, para muitos um subproduto da música romântica, mas de muita força comercial. Essa nova tendência musical tomou conta do país. Explodia então, a música romântica brega, consagrando artistas como Odair José e Amado Batista, por exemplo, que venderam milhões de discos. Aliás, Amado Batista continua vendendo muito até hoje.
Dando uma nova injeção na música romântica, Roberto Carlos juntamente com Erasmo Carlos viria a introduzir, definitivamente, o erotismo na canção popular. Músicas como “café da manhã”, “cavalgada”, "o côncavo e o convexo", “os seus botões” e “seu corpo”, dentre outras, se transformaram em absolutos sucessos. Nesta linguagem outros compositores da chamada MPB também ousariam na forma de falar do amor, como Chico Buarque de Hollanda em suas letras de amor ousado.
A chamada música brega abriu caminho para outro gênero que chegou com muita força nos anos 80, o Sertanejo Romântico. Chitãozinho & Xororó eram os protagonistas, rompendo barreiras e alcançando as FMS. A dupla é considerada o principal nome na modernização da música sertaneja, quando passou a introduzir em seus discos compositores de outras áreas musicais, e em seus shows a chamada grande produção, até então só possível no Brasil a Roberto Carlos e alguns dos grandes nomes da MPB. Inspirados neles vieram outros grandes nomes do sertanejo romântico como Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano e João Paulo & Daniel. Era, definitivamente, a consagração da nova música sertaneja privilegiando o amor.
Com a massificação da música sertaneja romântica, o rock nacional, o funk e o pagode também ganharam campo. O pagode veio com força nos anos 90, tendo Raça Negra como uma das bandas líder de mercado. Com isso a música romântica ganharia cada vez mais força no mercado fonográfico.
Na década de 2000 o estilo sertanejo romântico continuava forte, com Zezé Di Camargo & Luciano liderando as paradas de sucesso. Já na entrada da década de 2010, com a crescente do sertanejo universitário e do arrocha, o romantismo acabou cedendo um pouco. Nessa fase as letras passaram a ter menos importância, pois o que importava mesmo para os jovens eram as batidas do ritmo quente das novas canções. Mas mesmo assim, com tantas variações, a música romântica continua aquecendo os corações, pois não importa o ritmo, sempre tem uma pitada de amor na criação da maioria das canções de artistas como Marcos & Belutti, com as românticas “domingo de manhã” e “aquele 1%”, essa com a participação do cantor Wesley Safadão.
Como podemos ver, o sertanejo romântico e sertanejo moderno nada mais é, do que a chamada música romântica tradicional ou brega, só que agora, na maioria das vezes, cantada em duas vozes e com batidas mais arrojadas. A música sertaneja moderna acabou por romper com o preconceito que existia até então. E dessa maneira, a música romântica segue firme seu propósito, tocando a alma e o coração das pessoas nos mais variados gêneros. Ela permite andar em várias direções e, em todas elas, em qualquer lugar do mundo vai estar sempre presente para tocar em nossos corações. O mercado internacional também é muito rico nesse estilo de música e nos coloca à disposição milhares de artistas conhecidos em todo o mundo, e de outros que fizeram história, já desde as décadas remotas, como Frank Sinatra, por exemplo, considerado um dos mais populares e influentes artistas musicais do século 20, e um dos maiores recordistas de vendas de discos de todos os tempos.
Ao longo de sua carreira foram mais de 150 milhões de discos vendidos.